segunda-feira, 20 de outubro de 2008

PANTEÃO - Marcelo Mourão


PANTEÃO
Marcelo Mourão

Deus amor
Deus paixão
Deus ardor
Deus tesão
Nossos deuses habitam
Em nossos corações
Deus carinho
Deus afago
Deus arrepio
Deus abraço
Nossos deuses conduzem
As nossas emoções
Deus vagina
Deus palpitação
Deus adrenalina
Deus ereção
Todos os nossos deuses
Inventam nossas sensações
Deuses que vêm
Deuses que vão
Deuses que nos chegam
De todas as direções
Que nos invadem
nos transbordam
e escoam de nós
feito lavas de vulcão



sábado, 18 de outubro de 2008

LÍNGUA DE FORA - Marcelo Mourão

Língua de Fora
Marcelo Mourão

que vontade de poder dizer
tudo o que sinto
tudo o que vejo
sem ter nada a perder
sem perder o ensejo

que vontade de soltar o verbo
soltar a bomba e não me esconder
quantos estilhaços iriam pro ar?
o que iria de fato acontecer?

que vontade de poder dizer
o que muita gente quer dizer
mas omitem pra não se comprometer
que vontade de ajudar o céu a amanhecer!




CORES E AMORES - Marcelo Mourão

Cores e Amores
Marcelo Mourão

tua pausa sem pressa
meu tempo de espera
absorver tua imagem
gravá-la em aquarela

paixão é essa paisagem
esculpida em nossa tela
cores casam-se líricas
nesta loucura inédita

renasci dos teus lábios
como quem desperta
elo preso em teus laços
sou janelas e portas abertas

gioconda santificada
tudo em mim te venera
tua alma é minha morada
morrer é viver longe dela



terça-feira, 7 de outubro de 2008

A PROCURA - Marcelo Mourão


α ρяσcυяα
мαяcєlσ мσυяãσ

єυ ρяσcυяσ єм vσcê
σ qυє иєм мєรмσ єυ
รєi diяєiтσ cσмσ єxρlicαя
єυ ρяσcυяσ єм vσcê
υм иãσ รєi qυê dє รσинσร
υмα cєитєиα dє ρlαиσร
υм ραя dє αรαร ρяα vσαя
єυ ρяσcυяσ єм vσcê
υм รαитσ, υм αиjσ, υм dємôиiσ
αlgσ qυє ρσรรα мє dєรαfiαя
υмα cσмρlємєитαçãσ cσмρlєтα
Lєiтυяα fєiтα รó ρєlσ σlнαя
ραlαvяαร cєятαร єм нσяαร iиcєятαร
яємédiσ cσяяєтσ ρяα мє cυяαя
єυ ρяσcυяσ єм vσcê
αlgσ dє мσlєcα
αlgσ dє мυlнєя
αlgσ qυє vєинα α мє αliмєитαя
єυ ρяσcυяσ υмα dєυรα, υмα bяυxα
υмα viαgєм liиdα รєм нσяα dє αcαbαя
υмα รéяiα є dσcє bяiиcαdєiяα
αlgσ qυє иãσ รє тєм cσмσ єxρlicαя
єυ ρяσcυяσ єм vσcê
αlgσ qυє รó єυ ρσรรσ αcнαя
ρσяqυє รєυ cσяαçãσ é cσмσ qυαlqυєя ρσятα,
รó нá υмα cнαvє qυє α ρσdє dєรтяαиcαя.




A DANÇA DA VIDA - Marcelo Mourão

Dança da Vida
Marcelo Mourão

buscar felicidade
traçar rotas
ler mapa, bússola
e tudo mais

curupiras delirantes
indo adiante sem ver
pegadas para trás

vidas que seguem
dados que rolam
cartas na manga
defesa em armas

somos quase pássaros
refazendo moradas
olhando pro céu
em busca de asas




TRANSFUSÃO - Marcelo Mourão

Transfusão
Marcelo Mourão

anjo negro,missa negra
toda de preto
vestido longo,aberto do lado
sobre a sepultura dormindo
sonhando
eu chego
pé em pé
vou e tomo o pescoço
bebo o sangue
sacio-me de ti
teus olhos abrem
linda,branca,pálida
lindo e raro marfim
mármore Carrara
lábios vermelhos tornam-se róseos
pouco sangue
não tiro tudo,não quero tua morte
quero tua alma
no meu corpo,na minha pele

nos meus órgãos
depois te beijo,devolvo tua alma
através da minha boca pra tua
tremem corpos
com medo
com amor
com paixão
minha linda vampira
olhos de fogo
nossas almas se misturaram em mim
e tornaram-se uma só
daí quando te devolvi
eu e você
nada mais se distinguia
uma só alma
bipartida,repartida
minha,toda minha
irmã em alma
irmã em coração
irmã em sentimento
mas também esposa

agora e pra sempre
todo o sempre
te amo, amém.

AMADA - Marcelo Mourão

AMADA
Marcelo Mourão

Que brilho nos olhos
Que brancura nos dentes
Que alegria transbordante
transpiras sem dificuldade aparente
Tua meninice é luz profunda
Dessas que,infelizmente,com a idade
vai se apagando do coração da gente.
E eu,meio bobo,meio delirante,
rezo,quase penitente
pra que esse sorriso meia-lua cheio
não se apague tão cedo.
Que pipoquem luzes desses dentes
Que o gargalhar de menina sapeca
alivie sempre nossas dores,nossas chagas
Que brilho nos olhos
Que brancura na alma
Que alegria esfuziante
a fuzilar quem apareça pela sua frente
Eu queria entender o que esse coraçãozinho
tanto pensa,tanto pede da vida
Eu queria entender novamente
o que é que uma criança sente
Que brilho nos olhos
Que brancura nos dentes
Que alegria infinita
A recrudescer a velhice precoce na gente.





ACORDEI - Marcelo Mourão

αcσя∂єı
(мαяcєłσ мσυяãσ)

αcσя∂єı вσcєjαη∂σ
αłмα łıѵяє
αłмα łαѵα∂α
ρєıтσ αвєятσ
συтяα jσяηα∂α
ηυм ∂ıα ησѵσ
qυєяσ ѵı∂α ησѵα
αcσя∂єı cαηтαη∂σ
мє sıηтσ ѵıѵσ
нσjє ηα∂α ѵαı мє ∂єяяυвαя
ηãσ α∂ıαηтα só sєя ѵıѵσ
α∂ıαηтα тıяαя σ cσяρσ ∂α cαмα
є sαвєя σ ρσяqυê ∂є cαмıηнαя.





CAMALEÃO - Marcelo Mourão

Camaleão
Marcelo Mourão


posso ser o que eu quiser:
anjo, santo, flor, menina
ser Buda, Talião, Maomé.
posso ser sua mãe
posso virar minha mãe
ser pessoa importante
ou apenas uma qualquer

posso me pôr nu,
andando, deitado ou em pé
voar, flutuar, me transportar
como um facho, um raio
seja pra China, Cochinchina ou Tibet

posso quebrar as regras
infringir todas as leis
caminhar pro abismo
cravar uma adaga no peito
sem que eu precise morrer

posso estar cego, surdo, mudo
ser pedinte, traste e vagabundo
que reviro o mundo da cabeça aos pés
a poesia me permite tudo
e estou pronto pro que der e vier





segunda-feira, 6 de outubro de 2008

VÊNUS DESNUDA - Marcelo Mourão

VÊNUS DESNUDA
(Marcelo Mourão)

Incandescentes
Seus olhos de ninfa-mulher
Rutilam desejos e sonhos
que só seu indômito coração
pode pensar em querer
Incandescentes
rosto,peito e ancas
fervem ebulições carnais
sangram e vomitam
libido por todos os poros
loucura por todos os lados
te persigo,te encontro em sonhos
quando,na verdade,estás à minha frente
perto,porém distante dos meus toques
Meus olhos nos teus deságuam dementes
e um delírio febril me arrasta a reboque
deusa grega de seios túrgidos
coxas deliciosamente roliças
corpo num desenho de enfeitiçar
deusa maia de olhos rútilos
de gestos nobres, de lábios a sussurrar
delírios,demências,desmesuras
que dos meus ouvidos chegam ao coração
bomba cega do meu delirar
Incandescentes
Seus olhos chegam ao ponto mor do brilhar
Purpurejam os desejos mais sacrílegos
brilham setecentas vezes por segundo
num brilho que chega a me cegar
a me acender,me envolver,me afogar.



ELO - Marcelo Mourão

єlσ
(мєяcєlσ мσυяãσ)

тєυ รαиgυє
мє αlєятα є єиรiиα
σ vαlσя qυє тυα αlмα
тєм нσjє ρяα мiинα

тєυ รαиgυє, мiинα vidα
иσรรα яσтα, тυα รiиα
тυdσ é υм รó cσяρσ
υм รó иσмє

υм รó яυмσ
мєтα, ρlαиσ, fσмє
тєυ รαиgυє
мє αcєiтα є мє αqυєcє

є α ραятiя dє єитãσ
รσмσร cαяиє dα мєรмα єรρéciє.


MISTURA - Marcelo Mourão


Mistura
Marcelo Mourão

meu coração
teu coração
olho no olho
boca na boca

tua alma
minha alma
soma perfeita
chance mágica

tudo é permitido
quando cessam
- em nós –
as amarras

meu corpo
teu corpo
tudo nosso
tudo meu em ti deságua

e me vejo estampado
em teu rosto,
sangue, sonho
alma.

MORADA - Marcelo Mourão

Morada
Marcelo Mourão


teus olhos ardem em chamas

quase voam

e tropeçam nos meus

quando até pareciam escapar


eu bem que agora entendi!

é febre que vicia e não mata

tudo que há em mim

em ti logo se encaixa


a resposta mora em teus braços:

teu corpo é a minha casa.


domingo, 5 de outubro de 2008

A MAIS VÍVIDA DE TODA CONSTELAÇÃO - Marcelo Mourão


A MAIS VÍVIDA DE TODA CONSTELAÇÃO
Marcelo Mourão

Me busco entre estrelas
Enquanto náutico,
velejo sem sair do lugar.
Me perco no vão que há entre
teu ebúrneo sorriso de menina
e o faíscante olhar com que me olhas
Me vejo nas nuvens
densas dunas de algodão
Arrasa quarteirão
Arrasa meu coração
Me arrasta p'rum mundo de sonhos
de versos, de estrelas
que nem imaginava existirem no ar
Sabe quando você se dá conta
de coisas que sempre estiveram lá ?
Me perco entre seus versos
qual criança que desliza em tobogãs,
que joga bola, que brinca de esconder
Você fala e todo mundo,em tuas palavras,
acabam por se reconhecer
mas eu sei que, mesmo grandiosos,
seus versos são todos sobre e para você
Arquiteta de palavras
Prende,amarra,fascina
Quem mais eu vou descobrir em você?
Quem mais eu vou enxergar em você?
Alma que não cabe no corpo
fome infinda, feminina fúria
fonte inesgotável de versos,palavras,universos
qual medusa petrifica e se apossa do meu coração
qual estrela no céu mais vívida se destaca
entre todas de sua constelação


sábado, 4 de outubro de 2008

SONHO DE ÍCARO - Marcelo Mourão


SONHO DE ÍCARO
Marcelo Mourão

Aos poucos, o ardor do sol derreteu a cera.
As penas desprenderam-se,desfazendo as asas.
Mais uma vez o sonho acabou
Mais uma vez o inevitável nos recorda de sua existência
Vítima de si mesmo, ele encontrou seu destino
Entusiasmado,quis descobrir a imensidão.
Pobre jovem grego que mal conhece o mundo,
que pouco sabe da vida,
que se deixou levar pelo coração.
Mas muitas coisas
possuem suas rotas,suas órbitas,
seus próprios caminhos.
Viver é um constante abrir de portas
Quem sabe o que há além delas ?
“- Cuida,meu filho,de sempre voar no meio dos ares !”
O pai sabia que um vôo alto ou baixo teria um resultado fatal
O minuto da imprudência,
a busca aflita pelo infinito,
a corrida da adolescência.
Qual a principal razão ?
Onde está Ícaro agora,além de aqui,inerte ?
Onde está ele,seus sonhos,suas asas ?



ÉDIPO - Marcelo Mourão



ÉDIPO
Marcelo Mourão

A Esfinge proferiu sua sentença:
“Decifra-me ou devoro-te !”
O temor invadiu os olhos do bravo,
embora seus gestos continuassem firmes.
A morte ou a vida
O fim ou a continuação
Tudo lhe passava pela mente
Mas era preciso seguir adiante
Sem muito pensar
Pois o que está escrito
sempre se cumprirá
Do alto de um rochedo,sentada,
A abominável criatura lança seu desafio
E surpreende-se com a resposta
Aquela que soluciona a questão
Ao ser vencida,teve que se atirar no mar
Ao herói,libertador de Tebas,a coroa e a mão da Rainha
Mal sabia que o destino é o senhor das pessoas e do futuro
Salvo do enigma de morte,
porém acorrentado ao inevitável porvir.
Pois o que está escrito sempre se cumprirá.



DEUSA - Marcelo Mourão

DEUSA
Marcelo Mourão

A deusa envolta em seda
Descansa, agora,além das pradarias
Oculta em seu ataúde,
Guardada pelas noites frias.
As horas agora estão mortas
E o espírito,livre,busca o caminho
Caminho que só se vê no fim,
Caminho que só se trilha sozinho.
Ao dissociar-se do corpo,à princípio vem o horror,
que cresce ao presenciar sua morte,
que se esvai ao voltar a ser uma só.
Ela,nua,está lá,em seu ataúde, no
seio da terra.
Repousa sobre a colina,perto do céu,distante da vida.
Enrolada, pra sempre, em seda fina
E eu, pobre vassalo, rendo-lhe minha última homenagem:
Uma vela, uma oração sussurrada, meus olhos e tua imagem.